sexta-feira, 31 de outubro de 2008



Metrópole



Acordo com a névoa paisagem
A massa branca e as flores sujas,
O calor dos motores, as ruas tanto andam
Acalmo meu tremor com nicotina;
Sinto o feto de uma mãe inconstante
Balançando no pau-de-arara diário;
Estúpida morada de meu corpo, inútil fadiga
És minha tremenda exclusão, deixo um mundo
E passo a observar os pássaros que sem brio
Que sem termos, rasantes destroem o pomar
Posam nos fios de luz, esquecem luz
E o mundo escuro, o tempo escuro
Engole a poesia e só as metralhadoras
Soam numa noite que se fecha nuvens.

O mundo esquece os sentidos
A singularidade, o encanto de cada ser se vai
E de estatísticas se fazem cabeças.
E todo o afeto, tudo que de nobre, de repente
Nasce adentro do peito do homem, floresce
Mas com o dó de ser para morte; para o fim
Vejo o desespero de ter que deixar
Sentem a necessidade de tudo acabar,
Some a vontade do viver contente
E a desesperança exala a essência podre.

Um dia desses caí com a lagrima da mulher do túnel,
Que com sua criança nadava na angustia
Do mar de carros de um sinal de Copacabana;
Pobre menino dos olhos distantes, pobre presente.

Retorno a beleza oculta descrita na rotina
Temendo a mundana dose de dor; dose de vida
E sem cor regresso a poesia, a bela poesia
Que as pessoas esquecem nos livros, nos sonhos.


Uma semana no Rio, 2006, Gabriel C.

domingo, 26 de outubro de 2008



Não mais



Acaricio a caneta e o papel
Com o tato imundo e mundano,
Há tempos não lacrimejo em noite,
Porque o tempo que dorme depressa
Não deixa sequer regar meu amor;
Que sem rumo, sem nome
Traz das mãos, do coração a sina
A dor, a ansiedade que descrevo.

Uns dias antes desse, dos versos
No meu peito um vazio, um espinho
Incomoda, desperta e teme
O meu sono repentino, a carga horária.

Minutos desse insano amor, nego e degusto
Um sentido perdido(como se perde o que não se tem)
O que tem gosto de corpo tem cheiro de vida
E num real tão intenso me vejo simples homem,
Que goza da alma, que devasta e mede
Os pelos do peito a esquecer menino.

Cada dia, cada fitar de olhos rasos
Move salas em meu sentido, em mim;
Sei que estou a amar, mas não doente
Não preciso, não morro de fome, não mais.



È real, pois é de mim o que escrevo. Não há mascaras, não há espaços... 17 de setembro, Gabriel C.

terça-feira, 21 de outubro de 2008




Externo



Hoje eu contratei novos talentos,
Descrevi novas formas de flores,
Fingi disseminar formas de afeto.

Por um instante sumi com a voz;
Acabei com os sonhos e os perdi.
Por poucos apertos de mão chorei
Reencontrei a dor que passa
Quando a melodia toca e o medo cessa.

Naqueles mundos eu não seria vil
Jamais se assim estaria amável;
Não sou e nem serei traidor;
Não, se não houver solidão sorrirei,
Com a boca vazia ou cheia de álcool.

Assim, se a forma de contemplar é paga
Meu peito se rasgará em dívida,
Porque os prazeres inúteis que sinto
Do corpo se faz de fora, para fora.

21 de outubro, Gabriel C.