domingo, 31 de agosto de 2008



A forma da nuvem



Entretido com o sol, eu sinto
O solo que depõe, a flor que devasta
O grito que exala, o vento que range;
Depois os ponteiros vão me corroendo.

Na manha quando olho as pipas
Sambando na nuvem cheia de formas
Eu distribuo aos quatro cantos pétalas
Os sons que ouço calado, sozinho.

Há pena de transpor tais modos
Quando prestes estou a seguir;
Eu cruzo as pernas e me debato
Uso toda a força e me desgasto.

Os calafrios tomam meu corpo
E um vinho amargo cala minha boca,
Eu me despeço e acalento o frio
Que rasga a pele, que congela a alma.

Quando presentes pupilas se fazem úmidas
Nunca acalmo minhas letras, meus sentidos;
Talvez, quem sabe vou mentindo,
Procuro velhos brinquedos, me revelo.

Então em verdades já acabo sonoro
Cuspindo borboletas, sumindo do corpo;
Sendo somente pequeno ser, grande sincero
Tocando as letras de um berço inútil.

(E no final sou quase tudo que escrevo).


(Alguns dias atrás), Gabriel C.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008



Lugares ilesos



Turbilhões transparentes de puro fulgor
Num recinto cheio de cactos e balões,
Armas invadem minha casa;
As plantas não florescem o dia.

O porque toma as borboletas fingidas
Ocupadas em situar o resto do mundo;
Esqueço sem querer dos irmãos,
Meus irmãos, irmãos meus. A lucidez
Falta, e a vontade, uma sina viva
Invade as mãos e os movimentos.

Em velocidade, a dor, antítese a flor
perde a cor, a calma e a sintonia
Enquanto espero a solitude (Amarga)
Porque a solidão já não posso evitar.

As labaredas se revelam constelações,
Quando deitado na grama, quando nu
Me banho no céu, me perco e me encontro
Em alguns domínios desertos e alegres;
Vou descobrindo fortalezas ilesas as balas,
As guerras que aniquilam todo amor.


29 de agosto de 2008, Gabriel C.

terça-feira, 26 de agosto de 2008



Face Mundana



Não vou comentar, sonhar e nem chorar
(porque tudo que há aqui é sonante)
E caridoso com meu ser, nessa apoteose;
Talvez agora deva apenas relatar dias,
Horas e algumas frações de tempo
(tempestades me esperam), és vida.

Hoje eu acordei mais velho, mais manco,
Fui querer vagar pelas calçadas com amor
Com uma caneta e o sincero gosto de café;
Acabei morrendo nas pedras, ferido por doces
Que as crianças armadas soltam na praia;
(os soldados engolem todo sal de mim)

Dias que a orla espera o gosto de lagrima,
(Não, eu não quero degustar a maresia),
Tenho uma vida, guardada num pote
No meu quarto esperando por amor.

Com a calmaria de poesia me enterro
Nas begônias que colho do meu paletó;
(Eu nunca esqueço o que sai de mim).

As fezes mundanas encobrem o afeto
E os fuzis depravam meu coração
Mesmo aqui, nesse banco, nessa singular
Nesses substantivos abstratos e incoerentes
Que surgem quando tento escrever do mundo;
Porque tudo que defendo, que amamento
Vai sumindo vagarosamente em meio as guerras.


26 de agosto de 2008, Gabriel C.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008




Décimo-quinto andar



Os corvos passam pelos meus andares
Tecendo a escuridão que cai sonante
Com um piano triste desdém a cortina;
Algumas mãos espalham pouca dose
Do etéreo temor doente e cálido
Que sem brio destrincho às vezes e aos dias
Como as garças que também passam tímidas;
Eu sou o calor no peito alheio, eu sou
Quando despeço, quando não me encontro;
As flores caem da cobertura, o vento
Eu olho da janela e não vejo minha vida,
Eu pego meu café e não vejo meu amor,
Eu toco o relógio e vejo o tempo,
O tempo que não posso segurar, o meu sangue
Que escorre no vidro, que contem minha letra
Que se eu pudesse jogaria tudo daqui.
Estou no décimo-quinto andar, estou inerte
E desenho a praia no embaço do meu paladar,
Estou sonhando, estou mais uma vez sozinho.


(Eu não sei explicar essa solidão repentina, mas é passageira), Gabriel C., 11 de agosto de 2008

domingo, 10 de agosto de 2008




Cálice



Cálice tonante fascinação
Suspende valas ao prumo
Tenta um tudo guardião
Faz do solo, ar de cera
Torna cultos vagabundos
Jorra frutos a tristeza.

Já perece em termos, luvas
Ventes tanto leves vindas
Guardaram gestos e curvas
Sonetos breves, pernas nuas.

Vem a mim vãos de silencio
Corre pleno, discutir ao prado
Não se fez virtude e vicio
Mãos tímidas, puro e calado
Sai da dor sem nem ter sorte
Esvai-se no estremecer da manha fria.
(Não me lembro desse), Gabriel C., 29 de junho de 2007


quinta-feira, 7 de agosto de 2008




Verde Ocular



Sinto cada parte de teu corpo
E desenho de novo astros e pedras,
Teu gosto confunde um alarmar
E procuro na plantação diluída, então vejo:
És verde, belo que teus olhos esbanjam
Esmeraldas cor turva, infinita morada.

Tua pele minério, meu presságio
Cheiro teu dorso, sou grande
E quando em berço tenho aroma
Assim essência escrever pra ti imensa,
Meu lago diminui e posso passar
Quando reflexo se faz teu mel.

Tua boca nem grande, mas tímida
Expressa tal modo, diverso humor;
Pleno quando vais mover meus punhos
Minhas mãos encaminham teus lábios,
Desisto, então vou ao ocular sentido
Por ser bem mais vil, por verdade,
Por beleza miragem avisto.

Mesmo sendo aos teus lábios
Que regresso a tocar-te um beijo.


Para você Abelha, Gabriel C., 6 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008




Os meus sorrisos



Vou tecendo meu dialeto dócil e doce,
Na cama onde recinto meu corpo,
Onde descanso a mente, isso é mentira!
Na verdade é onde eu canso mais ela;
Mas não posso evitar um relato sincero
Ou até mesquinho, frio. Eu insisto,
Despudorado a tardar, e manejo velas
Que de indeciso preciso a noite, escura
Quando desperto no frio e vou escrever;
Minhas rudimentares alegrias repentinas
Ou como quase sempre, minhas várias tristezas;
Que nem sempre são minhas, mas dos vizinhos,
Das garotinhas apaixonadas, ou do mendigo,
Que vaga na noite onde eu bebo, que beijo
Que lamenta seu ódio na droga, que desaba
Sem pudor e mascara em meus poemas.

Mas os sorrisos são meus, são sim
Pois não encontro culpados, mas sim amor
Que engrandece meu ser, que sentido posso dizer,
È único, é singular, é meu. È isso que de mim flui
Que não se transforma, ou morre ou nasce;
Assim não esqueço, apenas perambulo
Por entre todos olhares, de cada estranho
De um simples comum e acho que também de mim,
Quando me vejo um reflexo, quando me vejo
Acordado numa madrugado chorando e sorrindo.


(A verdade de meus poemas), Gabriel C., 3 de agosto de 2008




Corações Amigos



Outra vez eu insisto no mar
Outra vez eu desisto em dias;
Quando da tinta me perco em palavras
Lamento, escuto e me obrigo
A descrever e chorar as rosas;
È quando da luz me faço sozinho
Escureço a casa e arrepio.

Talvez do viver eu ainda tema
Ou da morte presinta pouca tristeza
Porque do meu carinho, do meu perfume
A ausência toma de todo hoje;
E não tenho sequer papeis, travesseiros,
Mantos onde posso adornar,
Amores que possa sentir.

E alguns poucos meses tento,
Tento mentir, tento secar
Prantos que derramo na causa passada
Vidros que rasgo a pele
Sonhos que acordo suando, mentiras.

Hoje vou me esconder no quintal
Vou ser menino, infantilizar.
E mais tarde caminharei sem pressa
E com o vento, na chuva já fina
Dormirei nos corações amigos.


(E não há nada de triste, e sim um desfecho feliz.), Gabriel C.