terça-feira, 29 de abril de 2008



Chuva


Estou na mais completa;
Estou invisível e longe de casa,
No meu peito vasto é incrível
Esbanja um amor indivisível.
Corro com o tempo e me perco,
Eu morro, eu moro na chuva
Me abrigo porque temo sofrer,
E mais do que sofro no clima, agüento.

Esta frio e a garça partiu, a graça não,
Das minhas mãos um calor, o cravo;
Geladas os deixou e vida recusei,
E do estupendo fulgor eu cesso
Eu seco as lagrimas e não posso.
Vou perecer na solidão, e na entrada,
Que jamais... A chave de mim
Alguém levou, alguém sumiu.

A lua densa no céu, os meus olhos;
Não vivem, não vislumbram, não aquecem;
Meu órgão que bate a saldar bela-dona
A querer pele que tive, a enfartar tua voz.

Um tenor! Ouço as botas bélicas. È hora,
A mansão que pus de pé, que tanto...
As mortes em cada tijolo, eu vou...
Bebo o que agora desaba sobre mim.

Estou partindo para um interior lírico,
Vou andar na chuva acida do passado.

Gabriel C.

quinta-feira, 24 de abril de 2008


Lembranças



Poeiras de tua época
Desdobra entre compassos
Aperta meu peito pálido
Desejo impossível de volta
Reclama meu sentido de dor

A mente guardou
Cada cheiro e boca
Abraça o invisível passado
Repleto de verdes toques

O limite trava a vontade
Enquanto o tempo cede o choro
E cala com papeis e rostos
Meu desejo de voltar no tempo.

Gabriel C. (Nostalgia...)

quinta-feira, 17 de abril de 2008



Aquário



Estou tímido e nu na ralé passageira
Soando no campo, deitado e valente
Sentido o macio algodão do fundo
Nesse aquário vazio e profundo.
Daqui eu vejo saturno, distante e templário
Daqui eu me mato e me conheço,
Já tentei voar, já tentei sorrir e andar descalço
Mas minhas expressões a lua levou consigo
E bato no vidro ao tentar erguer o rosto
E se aquecer na displicente manha sonora.
Ouço o canto dos pássaros tinindo a liberdade
Acordo aos calafrios, sentenciando um novo dia
E descubro as violetas azuis, as pedras aladas;
Sou como a flor de verão que resplandece o clima
Que não anda, que não vê, mas que é vida
Que se faz única pétala, única beleza, única...

Banho-me nas águas coloridas e saudosas
Do grande rio que sai de meu coração,
Estou sem cor, estou na luz sépia e andante
Que a tarde nublada constrói. È assim...

Quiçá um dia o sol derreta minha redoma de vidro
Quem sabe um dia o vento leve meus poemas.

Gabriel C.


quarta-feira, 16 de abril de 2008




Arvore



Vivo um abril diferente, uma apoteose;
Um termo que não defino nem descrevo
Vegeto no tempo nublado, sonhando
Em ter quem falar, quem abraçar,
Quando tento alarmar meus sentidos
Os papeis já não contem gotas de sal.

Indago aos cantos, aos temas escritos
Porque terei de tocar, viver, sentir
Se meu tempo há de querer as rosas
Se no clima procuro a cor invisível,
Na estante repouso breve, e de repente
Eu correrei por todo sonhar inútil.

Hei então de percorrer todo pomar
Para assim quando no abismo entrar
Saberei tanto de viver e do porque nascer;
No vidro da janela embaçada do vapor da boca
Verei uma mãe, verei o semblante retiro,
Encontrarei a semente na primavera.

É inverno e as nuvens caladas não choram
A mãe da terra no meu quintal, seca
Desfaz-se para assim se renovar na estação,
Em que eu verei em que me amarei,
Sairei do meu leito e do colo devasto
Colherei, comerei e do ventre arvore se fará.

(È abril, é o mesmo nome, mas o tempo se foi, pessoas se foram)




Gabriel C. , 16 de abril de 2008


terça-feira, 15 de abril de 2008





Preciso



Nessa manhã chorei de medo,
Mas não senti motivo
È carnal situação e eu preciso,
De corpo, de teu corpo.
É como insisto em falar de morte
Toda vez que escrevo
Toda vez que caio em prantos
Tremendo e me localizando.
Preciso do teu mel!
Preciso de onde me manter,
Preciso ficar vivo.
Mas não vivo de vida
E sim vivo de ti;
Procurando em teus seios
Uma errante forma de amor.
Tires de mim meu coração,
Tires meu ar, meus pés
Mas não me tire o chão.
Onde piso é a única certeza
De talvez um eterno
Ou uma forma de concreto
Estar no mesmo pisar teu.
Peço um cálice de tua essência
Pra que eu não morra.
E já estou falando de morte
Talvez porque esteja perto,
Perto, tão perto que não se define.
Tento acalentar-me, vagamente
Mas não tenho-me aqui
Parece que já distante avisto
Uma forma de cariciar
Teus ombros dourados
E teu ameno moreno rosto.
E como me lembro de um passado
Nem tão distante assim
Eram meus olhos teu espelho,
E meu sorriso teu quadro
Jamais esqueço e me perdendo
Acabo-me em teu colo
Em continua insegurança
Necessito de tua boca
De vê-la, de beijá-la
De amá-la como preciso.


Gabriel C. , 17 de novembro de 2007

domingo, 13 de abril de 2008




O bicho que voa



Eu tinha uma casa na arvore
E também vários brinquedos
Carrinhos coloridos, heróis de plástico
Amores perfeitos e um teco-teco.

Da madeira cheia de balas
Onde eu criava meu mundo
Foi um dia, um belo dia;
Que vi um bicho que voa.
Uma escultura nômade,
Um passarinho que pousou
Em meu peito, em meus dias.

Depois de vários segundos e olhares
Eu já não era mais um menino;
Os brinquedos ficaram preto e branco
O passarinho pardo estava psicodélico,
E o resto que há tempos cenário escuro
De um salto eram estrelas a nascer do chão

Eu tinha um tesouro, eu era inseguro
Vi que eu era um homem, eu sentia.

Então numa manhã gelada
Do meu leito eu chorava,
O passarinho lá longe migrava...
O menino sumiu, o homem agonizava.
Um retiro de meses, enfim calcei o real.

Eu agora era um velho e no meu coração
Um poleiro vazio e penas lembranças
Um dia iria, eu sabia disso. Tudo se foi.
Eu amei um bicho que voa sozinho
Ele se foi, eu só lamento, eu o perdi.

De nada desisto fácil, mas tenho que aprender a perder.

Gabriel C. , 13 de abril de 2008


sábado, 12 de abril de 2008

A pouco tempo eu descobri que sem amor não existe inspiração e sim necessidade.



Quando no fim




Quando eu crescer, quando puder enxergar;
Quando estiver mesmo solitário
Sem a presença sequer dos corpos,
Minha única companhia será um retrato.

Eu vejo a flor na encosta da calçada,
Sentirei o frio, me isolarei na manchete
Eu temerei o calor ameno, eu sentirei
O frio vasto, o delírio descrente eu sentirei.

Eu tentarei a morte, voltarei tarde da noite
Sem sequer entender porque tanto amo;
Dormirei no berço de lírios, terei pesadelos
Verei o demônio chamado duvida.

Agora não posso ser mais que comum
Sou um analista na rachadura do asfalto
O vento que passa, a planta que define
A fronteira dialética, a revolta adiada.

Há uma guerra dentro de mim, vejo as fardas
Os soldados se exilam em meu coração
As armas foram esquecidas, o tempo as usa
E escrevo melodias não cifradas a luz da lua.


Gabriel C. , 12 de abril de 2008


Vai-se o tempo e eu sempre fico



Através de punhos desterro e atento
Tens em tantos segundos temores
O calar, o farol, a ilha e o coração.

Equivoco mentindo ao mastim da vida;
Imploro desde a dor inútil, o tempo
O tempo, que amase pelo mesmo suspense
Que nem tese entretanto ilusão
Pelo menos um lábio que toca o outro
È Isso, que vasto destrói;
Que momentâneo cessa a vontade.

È também ultima, repentino,
Ultimo, ultimato é presença de fim
Presta ao amor a chaga indefinida
Presta ao sertão deserto a cruz
O orvalho, a sacra eterna no poeta.

Esse que sincero não merece tal proeza
Esse, suas canetas, sua melodia
A curva das letras tímidas
Escritas com prantos seus, turvas
E curva-se diante a mesa, se desfaz.


Lamento a solidão nos livros e no mar
Sonhas, quantos olhares aflitos
Rogas que ao tempo aplacas o agora
Que distante avista um existir, um estar
Que nunca medres ao me ver, mesmo só.

Pois cativo-te sempre, espero a hora
Desespero e amo-te como o tempo não mata
Quero-te como o tempo não passa.

Gabriel C. ,28 de dezembro de 2007


quarta-feira, 9 de abril de 2008





Dias


Ah! Aqueles dias!
Como me lembro de seu sorriso, de sua estrela
Eu estava em pleno carnaval, na chuva de confetes
E do nada, assim bem que do nada, de repente
Ela se foi deixando-me sem luz, inerte
No momento que eu mais pedi, quando chorei.

Os meus dias...
Tento correr contra o tempo, contra a rotação,
Pois assim a luz não se vai, mais sou mortal,
E quando chega a noite eu tremo de frio;
Os meus dias torturam a mim ansioso
Agora sou como nunca fui, estou cego
Guardo minha força no clima, no tempo
Porque assim nada é culpa, é destino.

Equilibro-me no meio-fio da rua estreita
Perece tarde, e um eclipse eterno atormenta
Tenho medo, sim eu tenho, depende de mim
Mas é tudo tão amargo, tão maleável
E escorre por entre meus dedos.

E temo em me afogar na noite e morrer sem ela
Tenho medo da coruja, tenho medo da escuridão.


Gabriel C. , 4 de novembro de 2007

terça-feira, 8 de abril de 2008




O fim do asfalto



Depois de tanto andar sozinho
Despertei no leito de areia
No torpor daquela tarde,
Tarde cinza que ardia
Nos meus olhos nus
Acabados de nascer
A luz transparecia a alma
E do orvalho que desce de mim,
De onde derroto os sentidos,
Sentidos até bélicos. Estou no deserto,
Tenho sede de vida, puro desejo.
Calor, o ardor, o arder... Eu viajante
Ancorado onde acaba o asfalto
Onde mora o amor pra sempre
Onde perece o coração de mim
Onde esqueci minha carne sem pecado.

Gabriel C. , 5 de abril de 2008



Primavera Fria



Voz tão bela, cessante ecoar desertos
Vens cruzar o mar contente assim;
Fico incerto, demasiando loucuras e só;
Tudo é meu, posso amar tulipas,
Posso ver sob a raiz da terra,
Que a ti nasce mais um fruto de mim
Que a voz tua, produz musica
Permaneço apenas a escutar você.

Me vi perdido em teu ventre,
A procurar flores mais belas
Numa tarde fria de primavera.

Gabriel C. , 30 de agosto de 2007



Borboleta cigana



Em fim me renego ao clima
Espalho tudo pelo chão
E quando não mais sentido
A melodia volta, após...
O tempo, a caminha, o sol
O dia cinza é outono vulnerável;
As violetas murchas, viúvas
Se erguem na manha;
Quando saturno nem sequer
Retornou aos meus dias tristes.
Eu descobri que ainda amo
Eu descobri. Saudades da flor.

Agora eu volto a casa,
Depois de negar teus olhos
Eu ainda amo, eu sei.
E não poderei estar diante a ti
Se já não poderei tocar seu rosto;
Eu ainda amo, seu sei.
Há tantas borboletas aqui
Mas de todas quero a cigana,
E eu ainda a amo, eu sei.
E amarei eterno sem sequer lhe ver,
Haverei de ser nostálgico e amante
Eu ainda a amo, sempre saberei.

Gabriel C. , 8 de abril de 2008




domingo, 6 de abril de 2008



Minha casa assassinada



Pra quem espera a vida, é difícil
Se deparar com coleção de mortes
De ilimitados monstros frios
Que adornam nos vales escuros

Pra quem pesca sonhos, é difícil
Tomar um susto com a água
De profundos mistérios sem mapa
De anjos tão belos, mas afogados

Pra quem voa tão alto, é difícil
Se ver a não ter asas, ou preso
Num alçapão de cantos tristes
Em madeiras secas sem expressões

Pra quem vive a luz do dia, é difícil
Ver homens fazer chorar
A natureza tão alegre, sagrada
Sendo cada chuva assassinada.

Gabriel C. , 21 de maio de 2007
Sugiro que não tentem entender meus escritos, tentem senti-los.




Simples Sol



Há quarenta dias não vejo seu rosto
Pairando no teto da cela unitária
Assombrando um prazer alucinógeno.

Plumas e plumas constroem castelos
Mas difícil sente-se a envenenar
Os peixes do pequeno aquário

Só mais um dos meus últimos livros
Conseguem ler meus olhos abatidos
Escritos em tua língua passada.

Ternuras, toalhas e uma luz na janela
Não me deixam dormir sem ti
No fim de noite onde tudo chora.

E o leito fala tímido no meu chego
Encolha-se, não escute seus amores,
“Apenas feche os olhos pro amanha”.

Nos meus sonhos planejados
Parei antecipar as paisagens do horizonte
E surpreendo-me com um simples sol.

Gabriel C. 19 de agosto de 2007


sábado, 5 de abril de 2008





O espelho



Entre inúmeras veredas por onde andei
Nas gavetas presentes só encontro a dor
Colecionei medos, não descrevi o amor;
Apenas em vagos momentos toquei a mim
Lembranças de bocas que nunca beijei, de lugares
Entendo que por nascer só és sempre assim
Procuras alguém por toda a vida, mas é tempo perdido
A gente nasce para procurar a si mesmo
Pra encontrar no fundo cardíaco uma flor
Onde nada, exatamente nada é gratidão
Apenas você se banhando em si próprio

Eu acabei me perdendo em corações esquecidos;
Vi jardins secos, rosas murchas e um espelho .

Olhei pra traz, achei um eu morto.

Gabriel C. 28 de novembro de 2007




Constataste



Semanas outonais, eu estava persistindo,
O tempo não chegou, o andarilho partiu;
Apreciando os quadros de um passado meu
Foi na mesma tela da galeria, quando a garota
No balanço estava livre e feliz
Me fiz a súbita escultura de pedra.

Inexplicável o fluxo em que choro
É que agora as noites parecem curtas;
E que razão estranha a de ser,
Quando sem prévias um ser triste
Insiste em engrandecer sua importância.
Parece ser nobre seu martírio.

É também quando agora (no fim)
O romântico é melancólico e mais,
Eu não preservo minha chaga
E nem sequer póstumas memórias suas;
Porque assim saberei como partir
Sou um barco sem rumo, sem vento.

Não posso encarar escritos passados;
Quando meu coração a mostra se pôs
E sentido prestarei a uma nova chance,
A um qualquer préstimo de seu procurar
Uma boca, um encaixe de ombro,
E talvez, e quem sabe, um amor.

Ando a zarpar os sentidos em mim perecíveis,
Tento fingir que desisti, tento me adaptar
Tento não escrever.

Assim descrevo meus dias de hoje, Gabriel C.

sexta-feira, 4 de abril de 2008




Hei de ser



Hei de ser apenas memória
Póstumo, tenho peito nu;
Hei de estar no meio,
No meio do parque,
No coração da donzela,
Hei de não mais sentir
Na luz clareado;
No sentir, no zarpar,
Hei de ser um morador
Dos becos, nas ruas
Por entre os sonhos nas noites;
No transito futuro
Hei de sentir todas
Encarar tudo que é dor
De temer todo o eterno
(si é que existe tal modo).
Quem sabe serei na escuridão
O único olho, mais cobiçado;
Hei de ser amor ou ódio,
Não poderei ser tão assim,
Porque hei, serei e sou,
Mais de um sonho
Ou ate talvez pescador.
Hei de ser quem tira a vida
Quem bebe o sangue,
Ou quem amamenta
Quem de si tira a vida
E aí sim, tiro a vida
Tirarei a vida e me atirarei
Na tal solidão, na grande multidão
Estarei sozinho, hei de ser um só.
Hei de ser amor de mãe
Ou ódio de um amor perdido.
E quando assim serás
Hei de ser um ser só na poesia
Hei de ser o único escrito nas folhas
Hei de ser lembranças suas,
Hei de ser seu coração perdido
Nas cinzas do passado
Que deixei nas mãos imóveis
Do tempo que nunca para.

Gabriel C.



A companhia da bruxa



Aqui repouso em minha cadeira;
Às vezes participo de guerras,
Escuto as loucuras do cata-vento,
Não penso mais em cavalgar.

Porem chuva que se assusta
Eu vou pra cama, eu me deito.
Tomo meu chá, calço a solidão
E sono me toma as mãos, já tremulas.

As pálpebras pesadas resistem
No entanto tenho a velha bruxa,
Que me visita toda noite
Que é bela, fria, má e cruel.

Memória, ninguém jamais
Me separará de teu peito
Hei de viver e chorar
Em sua companhia, em sua pedra.

Hei de ser pura esperança
No entanto sei que jamais regressarei.

Só tenho a lembrar... Gabriel C.




terça-feira, 1 de abril de 2008


Procurando as memórias



É tarde e o dia leva a única estrela.
As vezes pensando, como era;
Devia ter me enforcado mesmo,
Devia ter nem pensado tanto.

A gente acaba se debatendo,
Trancando as portas que nem existem,
Se esquecendo assim em peitos
Tentei me adaptar e fui ferido.

Dormi quando não podia, sonhei,
Descobri que quando se esta alegre
Dormir é perder tempo e vida,
Mas aí todos foram embora.

Eu andei naquele parque, chamei,
Deserto, gostava ainda de brincar,
E flertes, gostos. Aquela musica.
Ninguém me via, eu nem estava ali...

Com os passos, minha casa vazia
Cheguei até as memórias, aos quadros
Tudo tão inacessível, minha flor distante
E os ventos frios rasgaram-me a alma.

O tempo passa, mas em mim nada muda. Gabriel C.