terça-feira, 1 de dezembro de 2009



Espaço



Os frascos de tempos se abriram após escritos
Calei-me diante todos os livros, me deixei em uma gaveta
E fugi, corri pro deserto me banhei de sol
Transei com cinco mil pessoas, e no fim; Dormi só.

Todos eram cegos, o cotidiano (Monstro pálido)
Arrancou seus olhos, destilou-os em fetos;
E o meu corpo todo queimado pereceu no álcool
Porem regressei, algo me suga, moro em lugar de mim.

Perdido, hei de ainda usar sobre mim esse tal estado
Talvez no físico, porque me encontro em uma redoma
Uma esfera de espelhos turvos e inalcançáveis.


Gabriel C.

terça-feira, 14 de julho de 2009



Amar ninguém



A cor das tintas tem a simples cor
A beleza não tem definição tão árdua,
Amar ninguém é algo tão obsoleto
Que não há porque a existência de versos
Aqueles calorosos, trágicos ou belos.

Não há o propósito do lírico, do amante
Quando este, escritor, sonhador, homem;
Amar ninguém é algo tão vazio...
A linha do mar não clama a desejo
O celeste anil não amamenta esperanças.

Os fatos, as fotos, o circo, nada feliz
E também nada triste, tudo inerte
Amar ninguém é viver a esmo
É esperar a si próprio no tempo;
É vingar sem causa, perder o que não se tem.

Amar ninguém é variável e indefinido;
É saudar o passado, sepultar o presente,
Estado inevitável, és apatia, solidão talvez
Amar ninguém é andar sem chão e descalço
É de fato e sentido, enterrar o futuro no quintal.


15 de julho de 2009, Gabriel C.

sábado, 2 de maio de 2009



Se pudessem ver



Eu conheço tanta gente
Esse imundo tudo, esse breu,
Um extrato de cores;
È sempre mais preto e branco,
Não teria asfalto agarrado nas ruas
Se essa gente, se esse povo
Aguassem meus sentidos,
Lessem meus olhos nus
Assim como eles são, desconcertantes.

Ah, se as pessoas pudessem
Correr adentro de si mesmas
Ah ,se elas pudessem.

Eu conheço tanta gente
E tanta gente não me conhece,
Conhece-mês mais aqueles estranhos
Aqueles da primeira impressão;
Se essa gente enxergasse,
Se o sol nascesse um dia mais escuro
Se a noite fosse uma vez mais clara,
As estrelas seriam o reflexo de nós.

Se essa gente soubesse o que sinto...

Gabriel C.


Repouso



Eu sei, que por mais promiscuo e inquietante que seja
A flor, a dor, a poesia, tudo que de imediato e flamejante
Que me passa, constrói e destrói, amamenta meu ser.

A tarde, ao léu, as rosas que cruzastes no ar, cheiro belo;
Lavarás vento pulsante e tremenda será a explosão,
Meu presente é mais tranqüilo que Orion, muito mais.

E por mais fatídico que seja, passarás por mim
Passaras por todos aqueles meus passados, os tons,
O correio passará, e as cartas já não terão dono.

Enquanto isso estarei correndo pro Rio, estarei
Voando, planando, mergulhando no mar de espuma,
Eis meu exílio, força demais, gosto demais, vida!

Farás de grande a estadia intrigante do medo, da coragem
Tudo transgredindo rápido, e nada para, nada para
Nada ancora essa sede, e que sede! Que sede.

E transbordará os copos do céu, a linha do horizonte
Essa que vou cuspindo até alcançar os quilates solares
E que não cessarei ofegante até que meus olhos repousem.


Hoje, sistematico e inérte, não vejo quem amo, assim, é quanse não amar. Gabriel C.

domingo, 5 de abril de 2009



Explicações



E nesse caminho estranho, o coletivo ao devaneio
E as furtivas entristecidas fotos ao consolar-te,
Continuo construir-te também de refugio, o tempo;
Os ermos e o frio que a ti fazia, minha alegria,
Que jamais pude ser pobre na carcaça oriunda,
Contemplei por dias, alegrias, alegrias incompletas.

Murmurei nos ventres humildes, colossais como eles
E pequenos como meu, meu, meu coração;
O formidável e ilógico fruto de cor, de gosto
Eram as sangrentas batalhas tortas, agregado estar comum,
E assim jamais fui, amei a bom tempo, mas amei.

Importas-te então as morais como algo fúnebre
Que estará sempre morto, e o que é vivo é a lembrança
Dificulto-me a livros ler, todos contam passados
E as minhas poesias, férreas, contaram de mim tudo e pouco
E sendo quando citadas num porvir, serão fracas
Só eu poderei dizê-las com fervor, somente eu.

Instrumentária aquele peso de ontem escrito
Minimizaria algo de falso, tudo camuflado na cor,
Eu nunca fui feliz por um dia inteiro, nunca se é,
Percorri as prateleiras, os corredores e não;
Os poetas mortos, as melodias passadas,
Como eu chorei, o meu rosto se rasgava, eu morria.

E quando arrematava os cacos, na feira nublada
Os gritos de preço, o cheiro de porcos, o paladar
Com a fome de fim chamava ao quarto, precisas dormir;
Iludir-me-ei quando a ponta do cacto seco no deserto
Alimentar minha sede de futuro e a distancia de passado
Tenho certeza, por todo o tempo eu jamais escreveria.

Mas por breves agoras, por enquanto e enquanto
Intimamente na minha desgraça, carnívora e vermelha
Machucarei todo o meu corpo, e então sempre surrei
Todo mal que tenha em mim, todo feto que guardo
Toda essa instancia que tudo alimenta, tudo dói
Alegre completo não, tristeza não tem nome e nem se explica.



Abrindo-me novamente, Gabriel C., 6 de abril 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009


Ao Dormir



Quando visto o terno de fim, me caibo
E de pouco em muito sinto tudo,
Acho que esses óculos ver-me fizeram
Que carrego mais peso do que vida.

As vezes, conto o ridículo da imensidão,
Tentando encontrar o fim, o motivo;

Tudo que é tão, mais pesado que o mundo,
Tudo que possa guardar o infinito,
E o pouco que posso exercer com o tempo;

As coisas passam, mas não passo
Filetes e vestígios de mim, sou maior
E tão pequeno quanto areia
Seja ela em sua forma, seja ela em grão.

Encontrarei pessoas e pessoas nas ruas
E elas tão coloridas, tão piores e cegas
Esses amantes e amados, essa multidão.

Que os lábios a procura, correm nas bocas,
Mas no fim, à noite, em casa; Estão só
Dormem com frio, cobrem com a solidão.

Só os sentidos, os amantes (os verdadeiros)
Sejam platonicistas ou não, sejam poetas
Descansam jamais, mas a cama estão aos suspiros,
Acariciando o todo e verdadeiro amor.


Gabriel C., estas conversas com Thaynne, Linda Èbano!

sexta-feira, 6 de março de 2009



Para Alguns Sorrirem



Quando abrir-me aos meus olhos
Vi-me totalmente inerte, calado
O meu coração ansiava as letras;
Porque sou então assim, sem roupas
Sou aquele que escreve, quem mais vê
Quem sem tato sente profundo,
Sou tanto, que nem sei, sou sim.

Se olhares pra mim e ver dor
Não posso em termos retratar-me;
Posso chorar, mas muito grande
Sou tão imenso, que o mundo
Tanto cabe, quanto pesa em mim.

Os seres que riem, não por feliz
Mas sim por cegueira, esses são fardos meus
Estes serão o que por tempo carregarei;
Se preciso da melancolia, preciso
E um julgamento indevido, precipitado,
Não mudaram meus olhos de descarga

O quem em meu peito sopra, nos outros
Sempre se escondem, sempre calam;
Então por o ser com o nó risonho no rosto
Deverás pisar-me e repudiar minha poesia?

Entenderas que para alguns sorrirem outros tem de chorar.



Sei que não posso fugir de mim,Gabriel C., 20 de janeiro de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009



Os Meus Objetos



Os meus lápis de cor, os meus rostos;
Os meus livros, as minhas roupas;
Volto a tua casa, e a olhar teus olhos,
Volto a sua alma, volto a ti
Os pequenos pedaços de mim
O meu eu inteiro, e inteiramente eu
A metade do querer, vontade
A saudade, a despedida, o suspiro.

Volto a ti, a procurar objetos e objetivos
A pegar o que esqueci, o que falta,
O que a tempos reclama o vazio.

Volto escasso por dentro, e por dentro
Sinto descalço e lamento, retorno
Momento e que tempos, retornam
Mas não, mas nem tão assim,
E volto, com as flores recuperadas,
Com o passado de lembranças amadas
Aladas e como elas, a sinceridade
E tudo que eu perdi, tudo mesmo.

Volto pra buscar o resto de mim
Volto a buscar o demasiado eu,
O imenso, e quem sabe tudo enfim.


Quando o passado ainda é vivo, Gabriel C., 17 de fevereiro de 2009

terça-feira, 16 de dezembro de 2008



O que os olhos enxergam



Após alguns termos, e poucas flores
Me encaminho para qualquer estrada,
Faço de passado a escuridão tremenda
E no fim, só me sinto, me sinto só.

Ao longe, mais distante de mim
Curto que de curta o impetuoso real;
O real se perdeu entre a chuva,
Chuva que não minha caí no asfalto.

Me farei de vento, longo ou curto
Mas a longitude não encontrara a exatidão,
Nem nos poemas, nem nos meus olhos
Muito menos naqueles que não me enxergam.

Falarás de mim, inconseqüência, melancólico
Pena; O lógico não encontro em nada;
Pronunciarás meu nome como poeta,
Sem nos escritos encontrar meu sentimento.

Não verás nos devaneios meus a tortura
A sede de céu, a fome de terra e o sorriso;
Então veras leitores o artista feliz?
Melancolia não se passa por tristeza.

E nem sorrisos por felicidade, A tal proeza,
Que aos montes ouço na praça, na vida;
Que aos poucos na pratica não vejo, mas talvez
A felicidade assim como a beleza, esta nos olhos de quem vê.



Isso é necessidade, Gabriel C.

sábado, 6 de dezembro de 2008



Jimi



Por saber que aos poucos morre, Jimi
Menino sentinela dos dedos mágicos
Expõe seus sonhos a as cores envolta;
Para não dizer, não é Jimi
Que a saudade é de quem a deixou,
Que de pouco Jimi, sofreria bem menos,
Sem afeto, sem alegria, sem sorrisos;
Porque apenas quem ri pode chorar
E nem sempre isso é equivalente.

Jimi, seus dedos precisos, sua voz macia
Diz esse prazer momentâneo, tão curto;
Saudade as vezes faz viver, faz correr,
Distancia não precisa ser corporal
É fácil estar só em uma multidão.

E ao cantar dedos de Jimi, garoto esperto,
Mostra o egoísmo de amar os seres
Pois se dá tanto, para que nada se recebe;
Poucos são seus tons pra falar assim,
Mas insiste e persiste... Descubro longe,
Colossal apesar de mim, como sinto,
Isso que seus timbres cantam, isso e mais
Algumas coisas que nunca são cantadas.

Aos suaves Jimi torce sua guitarra
E no fim ele acaba se apagando como ela;
Jimi ainda não aprendeu a terminar suas canções
Mas o que importa se ele se engrandece ao morrer
Virar lenda e exalar saudade a quem merece.



Quando ouço Jimi Hendrix, 6 de dezembro, Gabriel C.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008



Mais



Mais, mais, mais que o corpo absorve
As matas mestiças, os barcos estranhos
Mais que meu coração suportar, ainda mais,
Andarei pouco acima dos meus olhos;

Para não me desgarrar uso a vida
E para me esquecer procuro a morte,
Então descalço caminho as trevas, e mais
Bem mais que profundo, longe demais.

Tampouco, nem pouco, um pouco mais
Acabo transparecendo restos passados de dor
Ou um trecho a mais de uma grande flor,
Flor, as vezes colorida demais, a mais.

Faço de escasso um sorriso a mais
Menos jamais do que possa ser, vento jamais
Possa partir tarde demais, fingir que traz
Poucos rios de lagrima, poucos fins, e mais.

Sempre mais, sempre um grande a mais
A mais que aquilo da noite passada
Aquela prosa sem rimas, aquela dose de rum
Aquelas que sem mais, muito a mais.

Vidas astrais, pensamentos, vitrais e passarelas
Difusos mais do que possíveis, a mais
Belos e carnais como dos versos e mais
Melancólico e gritante como poderia, ou até mais.



Jamais escrevi tão longe de mim, 23 de novembro de 2008, Gabriel C.

sábado, 22 de novembro de 2008



Escassas maneiras de sorrir



Olhando as paredes, saindo de mim devaneio e ardor,
Fotografias espalhadas por todo o teto
Incansável desatino sem freio a gritar tão mudo
Mudo do vidro a força e a poesia me atrai.

O leito em mim, quebradiço como quase tudo
Não me abraça como antes, se vai com a brisa;
Os que passam por mim esquecem as caras
Esquecem partes que constroem meu interior.

Tente entender como sou e como sei,
Que para os poetas as maneiras de sorrir são escassas;
Entendeis que a poesia sincera e bela necessita de dor,
E é a mascara mais verdadeira que o rosto.

Quando fitares meus olhos não se vá sem perceber
Que não preciso que exale nada alem do que possa ser,
Não procuro uma forma de morrer por nada
Procuro um eterno que não seja enquanto dure.

E enquanto isso, sem inspiração uso a necessidade
E se fazem presentes as infinitas formas de chorar.


Infeliz forma de ser, 17 de novembro de 2008, Gabriel C.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008



Poesia vazia



Falares de amor com o coração intacto, então mentes;
Faz uso de palavras tonantes, cheias de dor
Quando teus seios jamais foram deixados no inverno,
Peca tantas vezes sem sair de si mesma, deixando-se amar.

Passas a pé a escorreres lagrimas pelo corpo, pálpebras secas,
Sendo intocável teu dorso, sendo inamável seu antes;
Sendo curto, inflamável e raso teu olhar presente
Não fareis nunca de mentiras tuas, verdades alheias.

Tu que tratas os poetas sinceros, estatuas adoradas
Que distantes escondeis sentidos sagrados;
Não fales de amor no singular e nem fale insensível
Aquilo a quem te ama e daria as letras um sofrer.

Não revelares a poesia tremula de seu amante
Aquilo que fazeis de ti fria no calor de amar,
Não jogais palavras ao léu, descubras tua sina
E perto entendereis que a ti adornarei um sempre.

Ide aos mais fortes versos e verás colossal
Tamanho que se torna os cadernos do ser que relata,
As estrelas, os teus olhos, teu amor
Exige as estrofes mais do que os poetas suportam...


Eis então que faço dos papeis parte de mim;
De minha fala sinos de silêncios gritantes e taciturnos.


Gabriel C.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008



Metrópole



Acordo com a névoa paisagem
A massa branca e as flores sujas,
O calor dos motores, as ruas tanto andam
Acalmo meu tremor com nicotina;
Sinto o feto de uma mãe inconstante
Balançando no pau-de-arara diário;
Estúpida morada de meu corpo, inútil fadiga
És minha tremenda exclusão, deixo um mundo
E passo a observar os pássaros que sem brio
Que sem termos, rasantes destroem o pomar
Posam nos fios de luz, esquecem luz
E o mundo escuro, o tempo escuro
Engole a poesia e só as metralhadoras
Soam numa noite que se fecha nuvens.

O mundo esquece os sentidos
A singularidade, o encanto de cada ser se vai
E de estatísticas se fazem cabeças.
E todo o afeto, tudo que de nobre, de repente
Nasce adentro do peito do homem, floresce
Mas com o dó de ser para morte; para o fim
Vejo o desespero de ter que deixar
Sentem a necessidade de tudo acabar,
Some a vontade do viver contente
E a desesperança exala a essência podre.

Um dia desses caí com a lagrima da mulher do túnel,
Que com sua criança nadava na angustia
Do mar de carros de um sinal de Copacabana;
Pobre menino dos olhos distantes, pobre presente.

Retorno a beleza oculta descrita na rotina
Temendo a mundana dose de dor; dose de vida
E sem cor regresso a poesia, a bela poesia
Que as pessoas esquecem nos livros, nos sonhos.


Uma semana no Rio, 2006, Gabriel C.

domingo, 26 de outubro de 2008



Não mais



Acaricio a caneta e o papel
Com o tato imundo e mundano,
Há tempos não lacrimejo em noite,
Porque o tempo que dorme depressa
Não deixa sequer regar meu amor;
Que sem rumo, sem nome
Traz das mãos, do coração a sina
A dor, a ansiedade que descrevo.

Uns dias antes desse, dos versos
No meu peito um vazio, um espinho
Incomoda, desperta e teme
O meu sono repentino, a carga horária.

Minutos desse insano amor, nego e degusto
Um sentido perdido(como se perde o que não se tem)
O que tem gosto de corpo tem cheiro de vida
E num real tão intenso me vejo simples homem,
Que goza da alma, que devasta e mede
Os pelos do peito a esquecer menino.

Cada dia, cada fitar de olhos rasos
Move salas em meu sentido, em mim;
Sei que estou a amar, mas não doente
Não preciso, não morro de fome, não mais.



È real, pois é de mim o que escrevo. Não há mascaras, não há espaços... 17 de setembro, Gabriel C.