quinta-feira, 24 de julho de 2008





Fingida dor



E vem mais uma vez
Tu como repentina flor
Falsa! Nuvem de chuva.
Entra em meus cadernos
Assim com andar pretensioso
Com essa escrita muda,
E pensa ainda me tocar;
Sumas demais maldita obra
Que também marcada, ultrapassada
Que não cabe na dor
Que dá volume ao ódio
Não sei relatar tal sentido.

E como novo escreve
Que de mim basta partida,
Mas é só minha chaga, é só
Então me deixe, me bani de amigo.
Esse sorriso é feliz, é sim
Mas não para tais fins, o seu,
Nem pra alimentar teu alivio,
Pois eu sofro. E se assim é tua
A dor que desmancho nas letras;
E você escreve com outra
Com alguma fingida lagrima.

Se digo que vou, passado sonho
Se hoje admito a inspiração
É o que me resta a lua cheia
As fotos, os sorrisos. Assim eu parto.
Durma até mais ou então cale-se
Desvirtue-se de meu passado,
Que seja cosmopolita tudo que por mim
Desejas, como o que não quero;
Nem felicite-se desse grande cinismo;
Me deixe mentir, me deixe amar.

O que faço agora nas manhas maresias
É olhar as loiras ouro nada enigmáticas
Que passam na linda Cláudio Coutinho,
Ou ficar aqui com o limitado dominó
É essa angustia de tempo;
Com meus velhos cacoetes, meus cabelos;
Vigiando as andorinhas, descrevendo a dor;
Dando beijos no ar, como amante
Suportando sua alegria, mas chorando.

Gabriel C., 23 de julho de 2008

terça-feira, 22 de julho de 2008




Difícil dormir



Há quarenta dias não vejo seu rosto
Pairando no teto da cela unitária
Assombrando um prazer alucinógeno.

Plumas e plumas constroem castelos
Mas difícil sente-se a envenenar
Os peixes do pequeno aquário.

Só mais um dos meus últimos livros
Conseguem ler meus olhos abatidos
Escritos em tua língua passada.

Ternuras, toalhas e uma luz na janela
Não me deixam dormir sem ti
No fim de noite onde tudo chora.

E o leito fala tímido no meu chego
"Encolha-se, não escute seus amores,
Apenas feche os olhos pro amanha”.

Nos meus sonhos planejados
Parei antecipar as paisagens do horizonte
E surpreendo-me com um simples sol.

Gabriel C., 19 de agosto de 2007





As marcas que se vão



Solidão na noite minguante, é saudade;
Um temor e não faz frio;
No ultimo encontro, sem beijo
Um descompasso, um personagem
Um segundo para o que eu desejo.

Tua fala, a frase escapa,
O bicho se foi, a minha marca
Uma das... Eu sei, eu esperava;
A parede também foi pintada!
Já não acordas mais comigo.

Em sua gaveta, em seu quarto
Nas suas roupas meu cheiro,
Mas sem conhecimento
Fico ao perecer no temporal
Tão distante que não possa ver.

Do outro lado da montanha
Minhas quimeras se conhecem
Meus ardores se declinam
Na direção do paladar seco;
No emaranhado parto a todo instante.

Gabriel C., 20 de fevereiro de 2008


sexta-feira, 18 de julho de 2008




Infelizmente



Infelizmente aos parentes tão cegos
Que não podem ver as únicas coisas do fim
Vou marcando todo telhado com flores.
Infelizmente aos amigos, que não me viram
Eu vou-me embora em poucos dias
E levarei toda minha presença, toda.
Infelizmente ao meu ego com poucos princípios
Que insisto em procurar tudo dentro do corpo
Nas noites escuras ou na lua como hoje,
Não me encontro e aguardo o fim inato.
Infelizmente aos meus dias, que se vão
Que de meu sorriso jamais terão noticia,
Que da triste minha ausência infame e poética
Eles não terão papeis, nem perfumes.
Infelizmente ao meu antigo amor, ao meu
Que de lembrança se fará pura angustia
Porque não posso ser, não posso ficar.
Infelizmente terei de ir e deixar assim
Tão secas as plantas, o cachorro, a caneta.
Infelizmente zarparei subversivo e calado,
Levarei uma bela lagrima, e todas as palavras.


(Infelicidade) Gabriel C., 18 de julho de 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008




“Mas”



Hoje, apesar dos gritos
Tenho o absoluto sentido,
Que os pássaros presos
Por demais assim tristes
Tem a esperança no olhar,
Pois se quando livres
A liberdade os condena,
Ou desgasta. Não é ruim;
Mas que alem do sentimento
Liberdade é o que nos há,
E que flui e também mata;
Então procuro outra dor.

As saias largadas ao chão,
Os bêbados caindo ao léu,
Vou decaindo assim sem rumo;
E como sem crença posso ser
Deus de mim mesmo, posso ser amor,
Posso até amar, posso sim.
E não espero, pois não vem
E nem virá nem um “Mas”
Depois desses sinceros versos.




Gabriel C., 15 de julho de 2008

sexta-feira, 11 de julho de 2008



O girassol



Quando prestes, seguir nada sabe
Amor, tenho pena a tarde infinda
Que sem pressa desaba sobre mim
È café, mórbido e singelo amargurado
Quando da mesa, pão e olhos
Me abraço a linda cortina, jardim
Que sem texto permite, insiste manha
A esconder o simples, o incomum
O admirável girassol, o verde me veste
Um sonho ou breve sonhar, perco
A rotina, e como se nem sei, já sou
Alegre num tom amarelo, como a flor;
Belo, indiscutível girassol de avó,
Terra que me despe, que me trata
Abelhas de onde me fitam o mel
Onde se deitam esplendidos céus.

Gabriel C., 11 de julho de 2008

segunda-feira, 7 de julho de 2008




Eles estranhos



Hoje, somente hoje tudo me tocava
Deram-me as mãos na rua, abraçaram-me
As palmas foram vindas de tudo
Alem dos beijos que me dedicam
As flores que recibo em casa,
As felicitações fúnebres persistem
Andam tentando me matar por minha arte;
Fazem divagações mais assassinas
Descobrem melancolia em meu caderno
Vêem-me desarmado, depois me vêem.

Hoje leram minhas mãos e meus escritos
E mal tentei amenizar. Eles estranhos,
Querem me tocar, mas não me sentir;
Esse teto incruste todos diamantes,
Lapido em mim os tais semelhantes,
Eles invadem um apartar, mas não mentem
Porem a sede, sangue, sina humana
Tudo é aniversário, são tentadores, eles
São sinceros, amáveis como são e sempre
Há alguém a amar alguém inocente.

Vou escondendo meu rosto, vou me cabendo
Desprezando alheios, eles estranhos.


Gabriel C., 5 de julho de 2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008





Quando não estou



Se quando no entardecer sou desconhecido
Isso é já no espelho, já me apresentando
O mais rápido procuro uma musica, um verso
E de claro a poesia me traz adiante.

Se mais breve no teatro sorrio feliz
No mais longo tremo de medo por sorrir;
Se lembro que em terras passadas nasci
Eu recuo e desmancho-me num papel em branco;
Escondo todo o tempo, todos os tons.

Se quando acordo num inverno tão vil
Esqueço o sol e me aqueço com o ainda,
Um porvir que não preciso esperar, o presente
Apresenta-me as margaridas passadas.

Assim vou completando semanas
Vou debruçando sobre os velhos enfeites,
Insistindo em revirar as cartas, os dedicados;
Se quando assim me encontro, é tarde,
É porque costumo não estar em mim.

Gabriel
C., 2 de julho de 2008



terça-feira, 1 de julho de 2008





O medo que eu nunca pensei



Hoje nos caracóis dos cabelos meus
Prevês a túnica do mais bravo homem;
Do homem que na areia cavas a buscar
Que vem no ar em movimento
No transparecer calor solar,
No entristecer unipolar e mais um;
E mais estiro um cadáver no chão,
Tombo patrimônios como o andarilho
Como os vadios na noite, na cidade;
Nos cobertores que cubro, o passado
Eu despisto o filme, o meu errar, o meu...
Então quero ser pescador depois de velho,
Então quero receber toda graça do vinho,
Dormir no chão da catedral central;
Ainda sim, acho pouco a decadência
Terei de ser o que então, como irei pedir
O pão, o amanha e as carambolas maduras;
Vou ter que morrer aos poucos, sofrer,
Lamentar o dia que esquenta, o frio que rasga;
Eu não sou mais Carlos, infindo queria
Tanto eu queria, mas vida há de faltar
Mãos hão de me pegar, eu estarei
No fim, na revolução interna, na decisão
No bater do martelo, no decreto final.

Para morrer, vou sofrer a esperar, vou perder
Esperarei acabar, angustiarei por vida,
E numa madrugada, num sono covil
Acho mesmo que serei queimado por crianças.


(O que veio repentino), Gabriel C., 2 de julho de 2008