segunda-feira, 11 de agosto de 2008




Décimo-quinto andar



Os corvos passam pelos meus andares
Tecendo a escuridão que cai sonante
Com um piano triste desdém a cortina;
Algumas mãos espalham pouca dose
Do etéreo temor doente e cálido
Que sem brio destrincho às vezes e aos dias
Como as garças que também passam tímidas;
Eu sou o calor no peito alheio, eu sou
Quando despeço, quando não me encontro;
As flores caem da cobertura, o vento
Eu olho da janela e não vejo minha vida,
Eu pego meu café e não vejo meu amor,
Eu toco o relógio e vejo o tempo,
O tempo que não posso segurar, o meu sangue
Que escorre no vidro, que contem minha letra
Que se eu pudesse jogaria tudo daqui.
Estou no décimo-quinto andar, estou inerte
E desenho a praia no embaço do meu paladar,
Estou sonhando, estou mais uma vez sozinho.


(Eu não sei explicar essa solidão repentina, mas é passageira), Gabriel C., 11 de agosto de 2008

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